domingo, 3 de abril de 2011

Ensinar não é transferir conhecimento


Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção e construção. Quando entro em sala de aula tenho que está aberto indagações, perguntas e curiosidades, um ser crítico e inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não de transferir o conhecimento.
É preciso insistir neste saber.
O meu discurso sobre a Teoria da extensão do conhecimento deve ser o exemplo concreto e prático. Ao falar da construção do conhecimento, criticando a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e na construção envolver os alunos.
Fora disso, me amaranho nas contradições em que meu testemunho inautêntico perde a eficácia. Torno-me tão falso e fingido quanto quem estimula a democracia por caminhos autoritários e diz que combate o racismo, mas quando é questionado sobre quem é Madalena diz que é negra, mas competente e decente. Jamais ouvi dizer que Célia é branca de olhos azuis, mas é competente e decente. No discurso perfilado de Madalena, negra, cabe a conjunção adversativa mas, que implica num juízo falso e ideológico: sendo negra, nem espera que Madalena seja competente e descente. No caso de Célia, é uma disparante que, sendo loura de olhos azuis não seja competente e descente. Dái o não senso da adversativa. A razão é ideológica e não gramatical.
Pensar certo e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamental, é uma postura exigente e difícil que temos que assumir diante dos outros e de nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela vigilância que exercemos sobre nós próprios as incoerências grosseiras. É difícil porque nem sempre temos o valor para não permitir que a raiva que temos de alguém vire um pensamento errado e falso. Por mais que me desagrade uma pessoa, não posso menosprezá-la com um discurso, em que cheio de mim mesmo decreto sua incompetência absoluta, tratando-a com desdém no alta da minha falsa superioridade. A mim não dá raiva, mas pena quando pessoas raivosas me minimizam e destratam.
É cansativo viver a humildade, condição do pensar certo, que nos faz proclamar o próprio equivoco e reconhecer e anunciar a superação que sofremos.
O pensar certo não tem haver com fórmulas preestabelecidas, mas seria negação forjá-lo na licenciosidade e no espontaneísmo. Sem rigorosidade metódica não há pensar certo.  
Ensinar exige consciência do inacabamento
Como professor, sou um aventureiro predisposto à mudança. Nada do que experimentei em minha atividade deve repetir-se.
Porém, repito, minha franquia ante os outros e o mundo é a maneira como me experimento enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do inacabamento.
O inacabamento do ser é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento, mas só entre mulheres e homens isto se tornou consciente. A invenção da existência levou homens e mulheres a promover o suporte em que os animais continuam no mundo. A experiência humana muda em relação aos animais no suporte. O suporte é o espaço restrito e necessário ao seu crescimento e delimita seu domínio. É o espaço em que aprende a sobreviver. O tempo de dependência dos animais adultos é menos necessário ao ser humano para as mesmas coisas. Quanto mais cultural é o ser, maior é a sua dependência de cuidados especiais. Falta ao outros animais no suporte a linguagem conceitual, a inteligibilidade do próprio suporte, de que resultaria a comunicabilidade do inteligido, o espanto diante os mistérios da vida. No suporte, a explicação dos comportamentos dos indivíduos, está muito mais na espécie do que no próprio indivíduo. Falta-lhes liberdade de opção, por isso, não se fala em ética entre os elefantes.
    A invenção da existência envolve a linguagem, a cultura a comunicação em níveis mais profundos e mais complexos. Só os seres que se tornaram éticos pode romper com a ética.
No momento em que os seres humanos, intervindo no suporte, foram criando o mundo, criaram por conseqüência a necessária comunicabilidade do inteligido. E tudo isso nos traz radicalidade da esperança. Sei que as coisas podem piorar, mas sei também que é possível melhorá-las.
Ensinar exige o reconhecimento do condicionado
Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas,  consciente do inacabamento, sei que posso ir além dele. Gosto de ser gente porque, percebo que a construção de minha presença no mundo, que não se fez no isolamento, tem muito a ver com mim mesmo.
Gosto de ser gente, apesar de várias questões sociais, sei que os obstáculos não se eternizam.
A consciência do inacabamento, nos fez seres responsáveis. Inacabados, mas conscientes do inacabamento, seres da opção, da decisão, éticos, podemos negar ou trair a própria ética.
O ser consciente de sua inconclusão vive permanentemente um movimento de busca. É neste motivo que para homens e mulheres está no mundo necessariamente significa está no mundo com os outros. Estar no mundo sem movimentar não é possível.
É na inconclusão do ser que se funda a educação como processo permanente.
Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida em que se conheceram inacabados. É também na inconclusão que nos tornamos consciente e que nos inserta no movimento.
Este é um saber fundante da nossa prática educativa, da formação docente, o da nossa inconclusão assumida. O ideal é que na experiência educativa, educandos e educadores convivam de tal maneira que eles vão virando sabedoria. Quando saio de casa para trabalhar com os alunos, inacabados e conscientes do inacabamento, abertos a procura e curiosos para aprender, exercitaremos tanto mais e melhor a nossa capacidade de aprender e de ensinar quanto mais sujeitos e puros objetos do processo nos façamos. 

G4: Cristiana, Germana, Robson e Taís

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